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terça-feira, 22 de maio de 2012

"O SENHOR é homem de guerra; o SENHOR é o seu nome." Ex 15:3

ResearchBlogging.org A violência associada a motivações religiosas como ataque a clínicas de aborto, ações de homens-bomba, agressões a minorias religiosas, imprecações contra homossexuais, etc. chama bastante a atenção, mas suscita a dúvida de se a religião tem alguma participação efetiva ou se é apenas uma desculpa.

Brad J. Bushman, psicólogo, então na University of Michigan, e colaboradores testaram a hipótese de que elementos religiosos poderiam aumentar a violência ao promover a identificação e a justificação. Para tanto compararam um grupo (teste) exposto a uma descrição bíblica de violência com outro (controle) exposto a uma descrição secular de violência. A passagem bíblica aumentou o comportamento agressivo (medido a partir de disparos sonoros aplicados em outras pessoas pelos sujeitos experimentais) em relação ao texto secular - tanto em pessoas religiosas (cristãs ou não) quanto em não-religiosos, embora mais intensamente nos primeiros.

Estudo 1
248 estudantes (95 homens, 153 mulheres) da Brigham Young University (BYU) receberam créditos de curso em troca da participação voluntária no experimento. 97% declararam pertencer à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias; 99% disseram crer em deus e na Bíblia.

Aos participantes foi informado que tomariam parte de dois testes independentes: um sobre literatura do Oriente Médio e outro sobre o efeito de estímulos negativos no tempo de reação. Responderam sim/não se: a) acreditavam em deus; b) acreditavam na Bíblia e leram uma passagem.

Para metade foi dito que a passagem eram os capítulos de 19 a 21 do Livro dos Juízes da Bíblia do Rei Jaime (a origem verdadeira do trecho relativamente obscuro e desconhecido por muitos), para a outra metade que era de um antigo pergaminho descoberto em 1984 nas ruínas de Wadi Al-Murabba ‘ah durante expedição do ProfessorWilliam Deyer.

Para os dois grupos, a história descreve a viagem de um homem e sua concubina (ambos da tribo israelita de Efraim) pelas terras da tribo israelita de Benjamin. Na cidade de Gibeá, o casal abriga-se na casa de um homem. Uma multidão chega à casa, toma a mulher e a violenta até matá-la, abandonando seu corpo frente à porta. O homem pega o corpo e leva-o até sua terra natal e convoca o povo de Israel para decidir que ação tomar contra o povo de Gibeá.

Para metade dos participantes havia um trecho adicional: "The assembly fasted and prayed before the LORD and asked 'What shall be done about the sins of our brothers in Benjamin?'; and the LORD answered them, saying that no such abomination could stand among his people. The LORD commanded Israel to take arms against their brothers and chasten them before the LORD" ["A assembléia jejuou e orou para o SENHOR e perguntou 'O que deve ser feito sobre os pecados de nossos irmãos de Benjamin?'; e o SENHOR respondeu-lhes dizendo que essa abominação não poderia permanecer entre seu povo. O SENHOR ordenou à Israel tomar as armas contra seus irmãos e castigá-los perante o SENHOR."], com sanção divina de agressão em vingança à morte da concubina. Para a outra metade, não havia nenhuma menção à deus na passagem.

A história terminava com a narração da luta dos demais israelitas contra os israelitas benjamitas. As baixas foram pesadas para os dois lados, com dezenas de milhares mortos. Finalmente Gibeá e outras cidades de Benjamin foram destruídas, com os israelitas matando homens, mulheres, crianças e animais.

Após a leitura da passagem, os participantes de ambos os grupos participaram de uma tarefa competitiva de tempo de reação de Taylor 1967. Os participantes eram pareados: cada um deveria apertar um botão o mais rápido possível em 25 rodadas. O mais rápido em cada rodada deveria liberar um pulso sonoro através do fone de ouvido do mais lento. O vencedor poderia escolher o nível do ruído: 0 - sem nenhum som; 1 - 60 dB até o nível 10 - 105 db. Pontuação de agressão foi dada a cada vez que o nível 9 ou 10 foi escolhido.

Os participantes a quem foi dito que a passagem era tirada da Bíblia tiveram uma média de 3,44±0,53 pontos de agressão maior do que os a quem foi dito tratar-se de um pergaminho antigo:  2,48±0,26 (p < 0,04). Os que leram a passagem de deus sancionando a violência também tiveram uma média maior (p < 0,09) do que os que leram a passagem que não mencionava deus: 3,40±0,43 contra 2,47±0,31. Homens foram mais agressivos (p < 0,0001) do que as mulheres: 4,12±0,53 contra 2,16±0,26.

Estudo 2
242 estudantes (110 homens, 132 mulheres) da Vrije Universiteit (Amsterdan) (VU) receberam € 3 para participarem dos testes. 40% não tinham nenhuma religião; 18% eram católicos; 11%, protestantes; 12%, muçulmanos; 8%, cristãos; 2%, hindus; 1%, judeus e 8%, outros. 50% acreditavam em deus e 27%, na Bíblia.

Foi adotado protocolo similar ao estudo 1.

Tiveram média maior de pontuação os que leram a passagem de deus sancionando a violência (p < 0,001):  8,70±0,69 contra 4,92±0,61 e os participantes que acreditavam em deus e na Bíblia (p < 0,08): 7,65±0,80 contra 5,97±0,46. A leitura do trecho com a sanção divina está associada à maior pontuação de agressão tanto entre os crentes (p < 0,001) quanto entre os não crentes (p <0,04), mas o efeito foi maior entre os crentes (Figura 1).


Foram mais agressivos homens (p <0,003): 8,23±0,70 contra 5,40±0,49  das mulheres e homens que leram a passagem com a sanção divina (p < 0,001): 11,19±1,08 contra 5,27±0,91 dos que não leram. Não houve diferenças significativas entre mulheres que leram a passagem da sanção divina (p < 0,18): 6,21±0,85 contra 4,59±0,83 das que não leram.

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Limitações
O tamanho amostral é relativamente grande, especialmente para a área de psicologia. A limitação maior é quanto à restrição das populações amostradas: estudantes universitários. Em parte isso é amenizado pelo fato de se testarem duas populações distintas: uma nos EUA e outra nos Países Baixos. Mas podemos notar diferenças nos valores entre os grupos dos dois estudos: p.e. homens do estudo 1 tiveram uma média correspondente a cerca de metade da dos homens do estudo 2.

Referência
Bushman BJ, Ridge RD, Das E, Key CW, & Busath GL 2007. When god sanctions killing: effect of scriptural violence on aggression. Psychological science, 18 (3), 204-7 PMID: 17444911

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