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terça-feira, 8 de maio de 2012

"Disseram-lhe, pois: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos, e creiamos em ti? Que operas tu?" Jo 6:30

ResearchBlogging.orgUm caráter distintivo de muitos grupos religiosos (embora não apenas religiosos) são seus símbolos. Michael J. Dotson e Eva M. Hyatt, mercadólogos da Appalachian State University, testaram a influência do uso de símbolos religiosos como pistas periféricas em peças publicitárias.

O modelo de probabilidade de elaboração de Petty e Cacioppo prevê duas rotas de análise de informações persuasivas: a rota central, na qual as informações são processadas de modo lógico e direto, e a rota periférica, na qual informações superficiais como cores, presença de personalidades, fundos musicais acionam ideias preexistentes e emoções. A primeira rota é mais provavelmente acionada em situação na qual o receptor está altamente motivado para considerar informações relevantes ao tema e as circunstâncias são de alto envolvimento; se a situação é de um receptor pouco motivado e em circunstâncias de baixo envolvimento, espera-se a atuação da segunda rota. (No entanto, não são duas rotas mutuamente excludentes e espera-se uma variação contínua entre os dois extremos.)

Dotson e Hyatt apresentaram quatro situações distintas, uma para cada um dos quatro grupos de indivíduos estudados (todos cristãos): peças publicitárias com argumentos fortes com e sem símbolo (cruz cristã) e peças com argumentos fracos com e sem símbolo. Indivíduos que não tinham muito envolvimento com o tipo de produto anunciado (seguro para animais de estimação) e apresentavam alto dogmatismo religioso apresentaram uma visão mais negativa e menor interesse na aquisição do produto quando a peça exibia a cruz; indivíduos com alto dogmatismo religioso com interesse no produto, no entanto, tiveram seu interesse ligeiramente aumentado com peças publicitárias que exibiam a cruz.

Estudo
Pré-teste: Usando o protocolo de Zaichkowsky (20 itens de escala de 7 pontos para adjetivos bipolares pra medição de envolvimento), chegou-se ao tema das peças publicitárias - seguro para animais de estimação: que exibia um forte padrão bimodal de envolvimento dos sujeitos analisados nesta fase (hipotetiza-se que o padrão se refira a guarda ou não de animais de estimação). Analisaram-se também a força/fraqueza de 12 argumentos para a aquisição do produto - 6 criados para serem considerados fortes e 6 para serem considerados fracos - por meio de escala de 7 pontos de fraco a forte: os três argumentos mais fortes e os três mais fracos foram usados para confeccionar as peças publicitárias.

As peças apresentavam um cão em frente a uma lareira. Em algumas, foi colocada uma cruz sobre o lintel. Elas foram testadas junto a um conjunto de peças publicitárias reais para se verificar se eram tomadas como peças genuínas.

Teste: 368 alunos de graduação (47% mulheres; 53% homens) em classes de 25 a 60 pessoas viram um de quatro tipos de peças - argumentos fracos sem cruz (I), argumentos fracos com cruz (II), argumentos fortes sem cruz (III) e argumentos fortes com cruz (IV). Cada peça foi exibida em meio a diapositivos de um total de 10 peças publicitárias. Cada slide foi exibido durante 15 segundos em um total de dois ciclos de exibição.

Após verem as peças, responderam a um questionário com 21 itens de escala Likert de 5 pontos para avaliar o dogmatismo religioso segundo protocolo Fagan & Breed 1970; e a escala de Zaichkowsky para o envolvimento com três tipos de produtos (um dos quais o de teste). Foram medidas a capacidades dos sujeitos de se lembrarem e de reconhecerem as categorias e marcas dos produtos, bem como o grau de lembrança de características dos produtos das três peças selecionadas. Para essas peças mediram-se a atitude (4 itens em escala Likert de 5 pontos) e atenção em relação às peças, atitude em relação à marca (3 itens em escala Likert de 5 pontos, 4 itens em escala de diferenciação semântica e medida de razão) e a intenção de compra (2 itens em escala Likert de 5 pontos).

Descartaram-se da análise os dados de 27 indivíduos que se declararam não-cristãos. Todos os indivíduos expostos às peças com as cruzes notaram sua presença conforme medição de lembrança em pergunta aberta e sem auxílio. Os resultados em relação às hipóteses da ELM testadas foram:

H1 "Sujeitos altamente dogmáticos prestam mais atenção às peças com cruz" rejeitado.
H2 "Sujeitos altamente dogmáticos têm atitude mais favorável às peças com cruz" rejeitado.
H3 "Sujeitos altamente envolvidos têm atitude mais favorável às peças que sujeitos com baixo envolvimento" (p < 0,001) aceito
H4a "Sujeitos altamente envolvidos têm atitude mais favorável à marca quando expostos às peças com argumentos fortes" (p < 0,001) aceito
H4b "Sujeitos com baixo envolvimento e altamente dogmáticos têm atitude mais favorável à marca quando expostos às peças com cruz" rejeitado -> têm atitude menos favorável (p < 0,05)
H5a "Sujeitos altamente envolvidos têm maior intenção de compra do produto quando expostos às peças com argumentos fortes" (p < 0,001) aceito
H5b "Sujeitos com baixo envolvimento e altamente dogmáticos têm maior intenção de compra do produto quando expostos às peças com cruz" rejeitado -> têm menor intenção de compra (p < 0,001)

Para indivíduos altamente envolvidos e altamente dogmáticos, encontrou-se também um efeito marginalmente significativo (p = 0,065) da combinação de argumentos fortes com a presença da cruz.

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Limitações
O tamanho amostral para cada grupo: cerca de 82 indivíduos, é razoável; porém trata-se de uma população restrita (alunos de graduação de publicidade da Appalachian State University). 92,7% dos alunos se declararam cristãos, maior do que a média americana: 78% se declaram cristãos. Mesmo se restringindo somente à população cristã, há de se considerar eventualmente outros fatores que possam interferir na extrapolação dos resultados - o tipo de produto, o modo de exposição, tendências políticas, faixa socioeconômica, etc.

De todo modo, faz pensar no efeito e no modo de influência dos símbolos religiosos em outras situações: como a exposição de crucifixos nos tribunais brasileiros. Não estarão a afetar os julgamentos?

Referência
Dotson, M.J., & Hyatt, E.M. 2000. Religious Symbols as Peripheral Cues in Advertising: A Replication of the Elaboration Likelihood Model Journal of Business Research, 48, 63-68 : 10.1016/S0148-2963(98)00076-9

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